Finanças de Médicos para Médicos – A primeira experiência no terreno

Fomos a uma reunião médica falar sobre FINANÇAS PESSOAIS

O objetivo da nossa página de Instagram e, mais recentemente, do blog, foi sempre falar sobre vários assuntos de forma simples e prática, tal e qual como gostaríamos que tivessem falado connosco quando ainda não percebíamos nada de termos financeiros, regras estruturadas para gestão de finanças pessoais e produtos de investimentos.

Visto que somos dois médicos, era expectável que mais colegas e outros profissionais de saúde se identificassem e se fossem juntando.

Também sempre gostamos da vertente formativa, de poder comunicar com pessoas e ter a oportunidade de esclarecer dúvidas. Para além de podermos ajudar os outros também nos enriquecemos a nós próprios porque nos estimulam indiretamente a estudar mais e procurar informação fidedigna sobre os temas.

Em pouco mais de 1 ano de página e de partilhas, nunca saímos do anonimato e assim pretendíamos continuar. Até o dia em que um convite nos levou a repensar:

A Secção Jovem da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia lançou-nos o desafio de fazer uma exposição oral sobre finanças pessoais para médicos no âmbito de uma reunião científica que é organizada todos os anos e que é dirigida a médicos internos de oftalmologia e recém-especialistas. O nosso tema seria apresentado dentro de um módulo que apelidaram de Sessões Out of the Box – muito original.

A nossa primeira reacção foi: “Nem pensar, nós estamos aqui bem, confortáveis, por detrás deste perfil de Instagram e portanto não vamos dar a cara agora” e também: “o que é que os nossos colegas vão achar de estarmos a invadir uma reunião de oftalmologistas e falar sobre de dinheiro?”.

A verdade é que lá no fundo havia um entusiasmo secreto e uma sensação de estarmos a ser atraídos pelo abismo. E se decidirmos ir? Não temos nada a perder. Se a organização se lembrou de nós, então deve haver mais alguém com interesse e não será assim tão descabido.

Demos por nós a ir consultar a agenda para ver se tínhamos disponibilidade naquela data: o caminho estava livre, portanto havia menos uma desculpa.

Depois havia também a questão de termos de dar a cara pela primeira vez (ainda por cima para uma plateia), mas a verdade é que algumas pessoas conhecidas já nos vieram abordar sobre a página (se calhar não somos assim tão discretos) e o feedback tem sido positivo. Então pensamos que isto também não seria um problema.

Aceitamos o convite!

A apresentação foi preparada.

Apesar de estarmos os dois relativamente à vontade com o falar em público, para médicos, em reuniões científicas (tudo muito normal durante o curso, internato e carreira no geral), algo estava a fugir ao nosso controlo e já havia ideias bem estruturadas de termos de ir comprar Inderal (para os seguidores não médicos,  é um medicamento que pode ser usado para eliminar aquela sensação de coração a querer saltar do peito  – dependente de prescrição médica, claro).

(Entretanto achamos que íamos comprar Inderal em Montargil – local da sessão – mas não passamos por nenhuma farmácia e caiu tudo por terra – se calhar foi melhor assim) 😅

O dia do evento chegou e, após o primeiro contacto com a comissão organizadora, tudo se foi desenrolando naturalmente e lá fizemos a nossa comunicação de 15 minutos.

Queríamos passar o maior número de mensagens possível naquele quarto de hora e o feedback da plateia ao longo da apresentação ajudou-nos a tornar fluido o discurso que tínhamos preparado.

Achamos muito interessante ter havido uma receptividade muito positiva e percebermos que  existem conceitos que são totalmente desconhecidos pelos nossos pares – tal como eram para nós há não muito tempo atrás.  Os médicos (e, virtualmente, todas as pessoas em Portugal) não estão preparados para lidar com dinheiro; falta literacia financeira, faltam bases para que consigamos construir o nosso património e acautelarmos o nosso futuro sem nos tornarmos escravos do nosso trabalho e vermos o tempo passar por nós (e pela nossa família). E o pior é que está instituído que assim é que está certo. Temos de suar para ter dinheiro, não precisamos de criar uma almofada financeira. Ganhar para gastar… e no futuro logo se vê.

Temos de travar isto e se as organizações de eventos médicos tiverem tanta ousadia como teve esta equipa, então diríamos que o primeiro passo está dado.

Muito obrigado pela confiança,

À organização da RAIO 2023 – Reunião Anual de Internos de Oftalmologia, aos membros da Secção Jovem da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia e aos colegas que pacientemente assistiram aos nossos 15 minutos de literacia financeira.

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